Por Léa Lobo
Tomando-se como base o passado recente, percebe-se claramente que a falta de planejamentos estratégicos e respectivos planos plurianuais de investimentos foi uma constante em boa parte da construção hospitalar no Brasil. Considerando que edifícios hospitalares (Estabelecimentos Assistenciais de Saúde – EAS) são bastante complexos, caros e necessitam de contínuas intervenções que assegurem ambientes adequados frente a constante mudança de fatores como a evolução das ciências médicas; aumento da perspectiva de vida da população; avanços da tecnologia da informação (TI); incorporações de novos equipamentos; tratamentos e procedimentos. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) adotou um ambicioso projeto de ampliação, revitalização e de manutenção de seu conjunto de prédios hospitalares, com um investimento médio anual no período de 2011 a 2016 de R$ 116 milhões, que permite a projeção dos recursos financeiros necessários no médio e longo prazo, estabelece o quê e quando executar, evita soluções de continuidade e assegura a capacitação e retenção de equipe técnica/administrativa vital para seu sucesso.
Estratégias revolucionárias
No viés técnico, adotou-se o binômio construção/manutenção, focando de um lado os novos prédios, retrofits e reformas necessárias, e do outro a plena disponibilidade operacional no dia a dia. Na parte financeira novos paradigmas foram estabelecidos:
• Buscou-se recursos através de contrato de financiamento junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, pelo Programa de Fortalecimento da Gestão da Saúde no Estado de São Paulo, contribuindo para a melhoria das condições de saúde da população por meio da estruturação de serviços, implantando novos hospitais, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em diversos municípios com o intuito de ampliar a qualidade e a integralidade dos serviços, com investimentos na ordem de R$ 500 milhões.
• Desenvolveu-se um Programa de Parceria Público-Privada (PPP), instrumento utilizado para realizar investimentos em infraestrutura, como a construção dos Hospitais de Sorocaba, de São José dos Campos e o Novo Centro de Referência da Saúde da Mulher, com investimentos na ordem de R$ 4.021 bilhões, incluindo a operação para os próximos 20 anos.
Hospital Regional do Litoral Norte – Projeto BID
Hospital Regional de Sorocaba – Projeto PPP
Engenharia hospitalar, um dos principais diferenciais
Dentre as diversas áreas que compõem a Diretoria Geral de Administração da SES, coordenada pelo Engenheiro e Administrador Jorge Alberto Lopes Fernandes, a engenharia hospitalar possui papel relevante, começando no planejamento, passando pelos projetos, contratações, gerenciamento de execução, até a entrega definitiva. A área de Projetos, Obras e Manutenção é chefiada pelo Arquiteto Adhemar Dizioli e conta com 35 colaboradores.
Desenvolver e reter conhecimento são imprescindíveis na gestão do edifício hospitalar. Sem um núcleo permanente, o know-how porventura adquirido volatiliza, perde-se a essência, relativiza-se a cultura organizacional.
Foco na legislação e nos desafios ambientais
Os projetos, obras e serviços de manutenção são contratados através de processos licitatórios, em estrita consonância com as legislações vigentes. Especial atenção é dada às condições ambientais como restrições a produtos e subprodutos de origem exótica, produtos e subprodutos florestais de origem nativa da flora brasileira (Cadmadeira), assim como com o que dispõe a legislação em termos da utilização do amianto.
Em todos os processos envolvidos, desde a concepção dos projetos, passando pela execução da construção e o uso do espaço construído, dentro das condições de cada empreendimento, são inseridos sistemas de eficiência energética, como, por exemplo, a utilização de iluminação natural, com janelas que valorizam a iluminação e circulação do ar na edificação, sistemas de energia renovável, utilização de equipamentos de baixo consumo, como as descargas com dupla função, e torneiras com controle de fluxo, e reuso econômico da água, por meio de sistemas de reaproveitamento da chuva, além de levar em consideração o descarte consciente de resíduos de materiais.
Manutenção, a melhor ferramenta para se assegurar uma efetiva disponibilidade e eliminar desperdícios
De 2011 para cá a Secretaria da Saúde consolidou e otimizou o Projeto de Operação e Manutenção Predial dos seus Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, na eterna busca por soluções eficazes. Tal projeto, que teve início em 2008, é responsável pelo sucesso da plena recuperação e segurança operacional dos prédios atendidos e expressivas economias nas utilidades com energia e água. Os contratos implantados abrangem a prestação de serviços contínuos de operação e manutenção predial, preditiva, preventiva, corretiva e emergencial e de assistência técnica das instalações e áreas físicas das Unidades, envolvendo os serviços de: civil, mecânica (ar condicionado, vapor e condensado), elétrica, hidrossanitária, gases medicinais e câmaras frias.
A operação adequada de um hospital só pode se dar com o perfeito funcionamento de todos os seus sistemas. Tal entendimento é claro e simples, na medida em que qualquer pessoa, ainda que não especialista em engenharia, perceba que não é possível o atendimento pleno às pessoas debilitadas e doentes, se os sistemas planejados e instalados em um hospital não estiverem aptos para utilização em caso de uma urgência e, ou, emergência. O perfeito funcionamento das instalações elétricas, hidrossanitárias, sistema pneumático e de gases medicinais, sistema de exaustão e ar condicionado, de caldeiras, de trocadores de calor, de fluídos mecânicos e térmicos, de sonorização, chamada de enfermagem e telefonia, dentre outros, fazem da edificação que abriga um hospital, a mais complexa.
Em sentido horário, a Diretora de Manutenção Adriana, Arquiteto Adhemar, Engenheiro Jorge Alberto e o Diretor de Obras Cláudio
A carência de recursos e a falta de servidores especializados junto com um plano secundário à manutenção hospitalar ocasionou a existência de hospitais com estrutura física em estado precário. Não há dúvida que setores críticos como Centros Cirúrgicos e Unidades de Terapia Intensiva, não podem sofrer qualquer interrupção no seu funcionamento, ou nas instalações de segurança, como incêndio e energia, sob pena de colocar em risco a vida dos usuários do hospital.
Um grande hospital, do porte daqueles que formam a rede estadual, possui sistemas com alto grau de complexidade e dimensionamento, de forma que, sob o ponto de vista predial devem contar com processos e programações diárias, semanais, mensais e anuais de manutenção preventiva e, ao mesmo tempo, contar com a agilidade necessária para a manutenção corretiva de emergência. Ou seja, a operação de hospitais está diretamente condicionada a uma manutenção presente e atuante.
Após levantamentos e estudos, a engenharia hospitalar concluiu que a opção pela contratação dos serviços agrupando unidades hospitalares da mesma região, de mesmo porte e em condições de conservação semelhantes constitui a forma mais vantajosa para a administração. Isso porque, do ponto de vista técnico, econômico e gerencial é o meio mais rápido para a troca de informações e de conhecimentos, que é fundamental para a solução de problemas relacionados com a área de manutenção, incluindo o Sistema de Gerenciamento Informatizado (SIGEIN) via web.
Atualmente o sistema de operação e manutenção predial é composto por oito módulos, abrangendo 44 unidades de saúde, totalizando 6.550.037 m².